(Uma odisséia sobre mulheres de seios fartos e ancas largas
Parte I
Um dia quente, úmido, abafado e viscoso, a roupa colava no corpo. Até as paredes suavam. Cássia Alessandra, enorme, deitada na cama observava a chuva se formando ao longe. A camisola de gestante grudava no corpo. Ela fechou os olhos e rezou para que suas bebês resolvessem nascer logo. Mesmo que fosse naquele dia, e o dilúvio que ameaçava a terra caísse e levasse todas as casas da rua. Por bem, ou por mal, já não agüentava mais a gestação pesada de duas crianças. Olhou seu corpo disforme e inchado, e da maneira que estava recostada no travesseiro não via sequer o dedão do pé. Apenas enxergava a imensa lua de sua barriga. Estendeu os braços e sentiu o suor escorrer de sua axila, alcançou o copo d água sobre o criado-mudo. Esse esforço foi o suficiente para que a bolsa rompesse e inundasse o colchão. Adelino, o marido, saiu correndo em busca de sua mulher que berrava “vai nascer, vai nascer”, largando a TV ligada e o final do campeonato brasileiro.
No hospital, depois de anestesia, choro e desmaios, cortaram a barriga para de lá tirarem o que chamam na ciência bizarra de xifópagas. Se não bastassem gêmeas idênticas, ainda eram grudadas. E o mais curioso é que as bebês uniam-se pelas nádegas. Melhor dizendo, cada uma tinha sua nádega, isto é, cada uma tinha seu ânus, porém na altura da carne que forma a protuberância chamada “bunda”, quase nas costas, elas estavam grudadinhas. Seu Adelino rezou e pediu perdão; Cássia Alessandra fez promessa. As bebês passaram por cinco minutos no jornal da noite na TV, a mãe chorou e o pai apenas pediu ajuda. O Bairro comovido fez novena e procissão. No final, Karla Adriana e Keila Cristina – já registradas no cartório da região - foram separadas e a nádega comum foi igualmente divida.
O pai muito preocupado com toda a repercussão, logo tratou de estabelecer medidas que atenuassem o trauma que toda a situação poderia infligir em suas meninas. Assim, desde cedo, Adelino colocava sapatos pesados – que ele próprio criara em sua oficina - para que as meninas forçassem a musculatura dos glúteos de forma que essa se hiper-desenvolvesse. Adelino sabia bem como mulheres ‘sem bunda’ eram preteridas na sociedade. Desta maneira, utilizou de todos os artifícios para que nunca alguém na rua apontasse para suas meninas e as ridicularizasse por compartilharem a mesma bunda, pouco restando então a cada uma.
As gêmeas bundanesas, as mulheres mais fartas e ancudas da história da cidade, estavam livres.
3 comentários:
sobre essas mulheres, minha avó diria: boas parideiras. beijo.
parra, gostei para caraleo, hein.
/e adelino, tão inocente, feito a gente quando sofre demais,
Caro RM em estado de estupefação,
Parra seria uma variação de porra, rs?!
Eu adorei, chamarei meu próxima peixe Beta de Parra, rs!
Sim, o Adelino é um homem brasileiro!
Mbjos,
Bi
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