terça-feira, 20 de maio de 2008

Sueli

Não há nada lá fora. Apenas ruídos e a lua cheia clareando a noite. Nenhum barulho no corredor, os apartamentos que enfileram-se no corredor parecem não terem vida. Sueli veste-se, olha o arranjo de flores artificiais sob a mesa e corta um suspiro ao meio. Sueli ficou sabendo por alguém que um novo morador havia mudado-se naquele dia para o motel. Alguém falou algo sobre ele ser um escritor. Sueli nunca havia encontrado um antes, tinha em seu imaginário que escritores fossem seres quase mitológicos, que andavam sob a terra como anjos, fantasmas, criaturas diferentes de todo o resto, que andavam sobre a terra, mas poucos tinham visto ou convivido com um. Sueli enganava-se sem saber que a meada de um escritor fedia tanto como a de outro qualquer. Sueli espia a lua, linda, grande, parece sorrir lá de cima. Ela sorri satisfeita. Sueli procura o maço de cigarros entre as coisas na estante. Acende e vai até a janela, dá uma tragada e solta a fumaça com prazer, pensa no novo morador e quando percebe sente-se como se estivesse apaixonada. Sueli mora no motel há muitos anos. Conheceu muitas pessoas por ali, até mesmo fantasmas, mas nunca um escritor, ela pensa enquanto traga seu cigarro dando baforadas para a lua.
Emerson Wiskow

5 comentários:

Anônimo disse...

As meadas dos escritores fedem até mais que a dos outros... a tal necessidade de chafurdar a lama da natureza humana...

Bianca Rosolem disse...

Sabe estava escrevendo esse aqui que posto agora, e engraçado que poderia ser uma história da sua história.

Bjo*

Bi

Escrevendo pra esquecer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Escrevendo pra esquecer disse...

gosto como você flutua depois de um ponto, depois de uma vírgula. Aliás, você é uma gracinha, acho que já te disse isso. Enfim, aonde é o motel?

Emerson Wiskow disse...

Gracias, amigo.