sexta-feira, 26 de março de 2010

Veja,

eu só tenho essa vontade de chorar. Eu não sou mais criança e durmo de luz acesa. Eu sou adulta e gostaria que você me colocasse no colo. Eu sou mulher e gosto de comer pipoca no parque. Eu sou criança e tenho tantas responsabilidades, e elas não param de crescer.
Em determinados momentos do ano é possível colocar sua mão em meu peito e atravessá-lo. É porque eu viro como um espectro e sombra, um sonho de mim mesma, uma reinvenção. Daí eu pego em sua mão e você pode atravessar a carne e o músculo e procurar o pequeno beija-flor asmático. Ele tanto bate, tum-tum-tum, quanto tosse pigarrento, cof-cof-cof, culpa dos cigarros que nunca fumou.
Você se assusta, larga o pequeno pássaro um tanto quanto sem jeito, e ele fica sem graça em sua falta de perfeição e beleza. Logo ele, que devia ter tanta graça, agora nem sabe direito se é pássaro, se é vida, se é amor, se é vazio, se é o que é que se é.
Faz assim, dê a volta, como se o mundo fosse essa avenida até o seu fim, e de lá grite meu nome para que então eu tente ouvir: Entre todas as pessoas, que falam e esquecem, entre todos os carros que não têm para onde ir, entre todo esse caos que é o mundo às 9 da manhã, eu ainda desejo te ouvir.
E me diz, por favor, você que já andou o mundo e chegou até o fim, se é verdade que existem monstros horríveis aí, ou se eles estão todos atrás de mim, no meu quarto, no meu armário e embaixo da cama.
Diga logo, me ajude, eu não consigo te ouvir, o pássaro se assusta e pode me levar embora, eu tento pegá-lo e não consigo.
Hoje eu sou de carne e músculo.
Tum! É só um carro que atropelou a vida.

2 comentários:

Maria disse...

= eu.

todavia, mas, porém... disse...

Poucas vezes senti tanta intensidade, em palavras simples. Mas dá prá perceber que saíram do fundo da alma, coisas que só uma mulher seria capaz de dizer...e sentir. Me tocou.